Num mundo em que cada vez mais as pessoas estão a (re)ganhar a consciência de que é importantíssimo cuidarmos do nosso corpo e que isso começa na alimentação, as marcas e superfícies comerciais não se deixaram ficar para trás… surgiram assim os “corredores saudáveis”. Feitos para nos fazer acreditar que qualquer produto que compremos daquela secção é um pacotinho de saúde.

 

Sabendo que a procura pelo “fit”, “natural” e “healthy” está em altas, as marcas usam estes rótulos chamativos, embalagens verdes e palavras mágicas como “bio”, “sem glúten” e “light” em embalagens que continuam cheias de:

  • Açúcares refinados escondidos sob nomes diferentes (maltodextrina, xarope de arroz, frutose, etc.);

  • Aditivos químicos para intensificar sabores (flavorizantes e aromatizantes), prolongar a validade (conservantes e antioxidantes) ou criar uma textura mais apelativa (espessantes e estabilizantes);

  • Óleos refinados que não trazem benefícios nutricionais (como milho, girassol, soja, canola ou palma).

 

Ou seja, continuam a ser processados, estão apenas disfarçados de saudáveis. Por exemplo, os produtos “sem glúten” que encontramos no supermercado ou em lojas parecem, à primeira vista, opções saudáveis, mas na realidade escondem um problema sério: a lista de ingredientes é, muitas vezes, interminável e composta por aditivos, gomas, amidos refinados e substâncias químicas cujo impacto na saúde pode ser ainda mais prejudicial do que o próprio glúten.

Salvo no caso de pessoas celíacas, em que a eliminação total é necessária, não faz sentido substituir pão, bolos ou massas por imitações industriais “gluten free” que pouco têm de naturais. O ideal não é procurar cópias artificiais, mas sim reinventar a alimentação com alternativas verdadeiramente nutritivas, simples e completas, como cereais integrais naturalmente isentos de glúten (arroz, milho, quinoa, trigo-sarraceno, amaranto), bem como legumes e tubérculos, que alimentam o corpo sem comprometer a saúde.

 

 

O conforto enganador

Quando confiamos cegamente nestes corredores, acabamos por consumir produtos que não contribuem verdadeiramente para a nossa saúde. É como se nos dessem luz verde para comer bolachas, barras ou bebidas processadas só porque estão na prateleira “do bem”.

Este conforto psicológico pode ser até mais perigoso: relaxamos a vigilância e acreditamos que estamos a fazer boas escolhas, quando no fundo estamos apenas a trocar um rótulo por outro.

 

 

O que significa, afinal, ser saudável?

Ser saudável não é comprar no corredor certo. É fazer escolhas conscientes, baseadas em alimentos reais e pouco processados, como:

  • Frutas e legumes frescos;
  • Leguminosas, frutos secos e sementes;
  • Cereais integrais;
  • Produtos animais de boa qualidade – de preferência, raças autóctones, criadas da forma mais natural possível;
  • Preparações caseiras, onde controlamos os ingredientes.

 

 

Como descodificar os rótulos

Um bom exercício é virar a embalagem e analisar a lista de ingredientes:

  • Quanto mais curta, melhor;

  • Se tiver nomes que não reconhecemos, provavelmente não é assim tão saudável;

  • Se o açúcar (ou os seus nomes disfarçados) aparece nos primeiros lugares, o produto não é equilibrado. Em Portugal, é obrigatório que a lista de ingredientes esteja organizada por ordem decrescente, ou seja, o primeiro ingrediente da lista é sempre o que se encontra em maior quantidade no produto final, e o último, o que está presente em menor proporção

 

A tabela de rótulos aprovada pela dgs pode também ajudar a decifrar o que devemos ou não consumir.

 

 

Conclusão

O verdadeiro “corredor saudável” não está num sítio do supermercado,  está nos produtos não processados, locais, sazonais e de qualidade, e nas nossas escolhas diárias.

A melhor forma para fazer escolhas corretas é ter informação. Portanto, vamos desmistificar o básico da nutrição:

  • Os macronutrientes dividem-se em três categorias: proteína (responsável, entre outros, pelos músculos), gorduras (essenciais para a produção hormonal)  e carboidratos ou hidratos de carbono (principal fonte de energia).
  • A proteína está presente em alimentos como peixe, carne, laticínios, ovos, leguminosas e tofu;
  • A gordura provém de fontes como as oleaginosas, manteigas de oleaginosas, sementes, óleos e produtos animais com gordura;
  • Carboidratos podem ser encontrados em alimentos como pão, massa, arroz, batatas, leguminosas e fruta;
  • Além dos macronutrientes, existem os micronutrientes, como os minerais e as vitaminas, que suportam, entre outros, as células, os ossos e o sistema imunitário.

Uma alimentação equilibrada, completa e variada fornece os macro e micro nutrientes que necessitamos. Comer com consciência é mais importante do que confiar em embalagens bonitas ou secções com nomes pomposos.