O que é melhor: arroz branco, integral ou nenhum dos dois?

Quando se fala de alimentação saudável, o arroz é um dos temas que mais divide opiniões. Durante muito tempo, o arroz branco foi o protagonista das nossas mesas, presença constante em pratos tradicionais e acompanhamentos. Com o passar dos anos, o arroz integral ganhou destaque, sendo promovido como uma alternativa mais saudável, rica em fibras e nutrientes. Mas afinal, será mesmo o arroz integral superior ao branco? E será que precisamos de arroz algum na nossa alimentação? A resposta, como quase sempre na nutrição, não é tão simples e depende de vários fatores, desde as necessidades individuais até ao contexto cultural e digestivo de cada pessoa.

O arroz branco é o mais comum e muito consumido no mundo. É o grão de arroz que passou por um processo de refinação, no qual o farelo e o gérmen são removidos, restando apenas o endosperma, rico em amido. Este processo confere-lhe uma textura macia, uma cozedura rápida e uma digestibilidade elevada. No entanto, também retira grande parte das fibras, vitaminas do complexo B e minerais que se encontram nas camadas externas do grão. Por isso, o arroz branco é frequentemente criticado por ser uma fonte de energia “vazia”, ou seja, fornece hidratos de carbono de absorção rápida, mas poucos nutrientes. O seu índice glicémico também é mais elevado. Ainda assim, é importante reconhecer que o arroz branco não é um vilão. Em muitas culturas, especialmente na Ásia, é consumido diariamente há séculos sem causar problemas de saúde significativos, o que demonstra que o contexto alimentar geral e o equilíbrio da dieta têm um peso muito maior do que o alimento isolado.

Já o arroz integral mantém o grão quase completo, conservando o farelo e o gérmen. Isso faz dele uma fonte mais rica de fibras, magnésio, manganês, selénio e algumas vitaminas B. O seu índice glicémico é mais baixo, o que significa que liberta energia de forma mais gradual, ajudando a controlar os níveis de açúcar no sangue e a prolongar a sensação de saciedade. Estas características tornaram o arroz integral um símbolo da alimentação saudável. Contudo, nem tudo são vantagens. O farelo do arroz contém ácido fítico, uma substância que pode reduzir a absorção de minerais como o ferro e o zinco. Além disso, por ser mais fibroso e de digestão lenta, o arroz integral pode causar desconforto intestinal em pessoas com digestões mais sensíveis. Em termos culinários, também exige mais tempo de cozedura e tem um sabor mais terroso, o que nem todos apreciam.

Do ponto de vista energético e digestivo, o arroz branco é considerado mais “leve”, de fácil assimilação, ideal para pessoas debilitadas, com digestão fraca ou em períodos de convalescença. Já o arroz integral é visto como mais yang, mais denso e fortalecedor, adequado a quem precisa de estrutura e vitalidade, mas que pode ser excessivo para quem tem um metabolismo lento ou vive em climas quentes. Por isso, a escolha entre um e outro pode depender mais do estado individual do que de uma regra universal.

Também vale a pena considerar o impacto ambiental e o tipo de agricultura envolvida. O arroz, independentemente da variedade, é um alimento que consome bastante água no cultivo, e a sua produção intensiva pode ter efeitos ecológicos relevantes. Optar por arroz biológico e de origem sustentável é sempre uma escolha mais consciente, quer se trate de arroz branco ou integral.

Em última análise, a questão “qual é melhor?” talvez não tenha uma resposta única. O arroz branco pode ser preferível quando se busca leveza, digestão fácil e simplicidade. O arroz integral é mais vantajoso a nível de saciedade e aporte nutricional, porém deve ser demolhado e cozinhado com alga kombu, para não criar acidez e ser mais fácil de digerir.

E não comer arroz algum também é uma opção válida, desde que a dieta seja equilibrada e rica em outros alimentos integrais e vegetais. O segredo está em compreender o próprio corpo e as suas necessidades, e não em seguir modas alimentares ou listas de “bons” e “maus” alimentos.

Em vez de pensar no arroz como bom ou mau, talvez devamos vê-lo como o que realmente é: um alimento neutro, que pode ser parte de uma alimentação saudável ou não, conforme o contexto. Há dias em que um prato simples de arroz branco com legumes cozidos pode ser o que o corpo precisa; noutros, talvez um arroz integral com leguminosas e vegetais salteados seja a escolha mais nutritiva. A verdadeira sabedoria está em escutar o corpo e encontrar o equilíbrio entre o prazer de comer e o bem-estar que a comida proporciona.